Novas medicações permitem o controle da doença e evitam deformações
Pierre Auguste Renoir (1841-1919), nome que por si só poderia ser sinônimo da pintura impressionista, foi um precursor do movimento e um dos seus mais legítimos representantes.
A superação fez parte da vida deste gênio, que sofreu de uma dolorosa artrite reumatoide por mais de 30 anos, continuando a pintar com a ajuda de familiares e assistentes, que inseriam os pincéis entre seus dedos retorcidos.
A doença progrediu, afetando ombros, pernas e pés, levando-o à cadeira de rodas. Pintou até o último dia de sua vida. Se vivesse em nossos tempos, a história poderia ser diferente.
A artrite reumatoide é uma doença autoimune inflamatória crônica com acometimento articular, principalmente de pequenas articulações como mãos, pés e punhos, podendo também acometer olhos e pulmões.
A prevalência é 0,5 – 1,5% na população, sendo que acomete mais mulheres do que homens, na proporção de 2 para 1, e ocorre na faixa etária entre 30 a 50 anos.
De acordo com a Reumatologista Andrieli Caroline Mehl, do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP, isso ocorre quando as proteínas da articulação são reconhecidas como ´estranhas´ pelas células de defesa da pessoa, que começam a atacá-las.
A repercussão clínica desse ataque é o surgimento da artrite e essa inflamação crônica pode levar à destruição da articulação.
“Além disso, a inflamação pode aumentar o risco de aterosclerose, processo que leva ao entupimento das artérias e ocasionar infartos e Acidentes Vasculares Cerebrais”, comenta Andrielli.
Os principais sintomas da artrite reumatoide são dor e aumento de volume (inchaço) nas articulações, calor no local, rigidez matinal (as articulações são mais rígidas pela manhã).
No início do quadro, enquanto a pessoa não inicia o tratamento, podem apresentar febre, fadiga e anemia.
Fatores de risco
Como em todas as doenças autoimunes, há uma combinação de fatores de risco, como a predisposição genética (alguns HLA associados, bem identificados – tipo de genoma ligado a traços de perfil familiar), o tabagismo (o cigarro é capaz de modificar proteínas e fazer com que as células atuem de forma cruzada com células da articulação, atacando-as e desenvolvendo um processo inflamatório.
A doença tende a ser mais agressiva em pacientes que fumam e a periodontite (processo infeccioso que pode engatilhar o sistema imune na direção da autoimunidade).
Em crianças e jovens a doença está dentro do espectro da Artrite Idiopática Juvenil.
Na criança ela pode começar aos 2 anos de idade e os critérios de diagnóstico são diferenciados, porém o tratamento e medicamentos são parecidos com os da AR.
Diagnóstico da artrite reumatoide
A história e o exame físico de uma pessoa são fundamentais para o diagnóstico. Existem quadros que podem mimetizar a AR, como uma forma crônica de Chikungunya e outras infecções virais (hepatites) ou outras doenças autoimunes, cujos sintomas podem ser semelhantes, como fadiga, perda de peso, rigidez e edema articular, o que pode mascarar o diagnóstico.
Existem alguns marcadores, como o Fator Reumatoide (FR) e o anti-CCP (antipeptídeo citrulinado cíclico), que podem indicar a doença e podem já estar positivos em pacientes que ainda não desenvolveram a artrite.
Por outro lado, a pessoa pode ter Fator Reumatoide positivo e nunca desenvolver a doença.
Sozinho, o FR não dá um diagnóstico, mas sim dentro de um contexto, somado a um histórico e exame físico bem feitos”
Tratamento
O objetivo do tratamento é controlar inflamação e prevenir sequelas. Enquanto buscamos a melhor DMARD (droga antirreumática modificadora da doença) para controlar a atividade inflamatória autoimune, usamos anti-inflamatórios e corticoides.
“As medicações chamadas DMARDs convencionais são a primeira linha de tratamento. Dentre elas a principal é o metotrexato, medicação imunossupressora usada aqui em doses inferiores àquelas usadas em quimioterapia”, cita a reumatologista.
Para pacientes que não respondem aos DMARDs convencionais, há os DMARDS biológicos e os alvo-específicos.
Os biológicos são medicações injetáveis desenvolvidas pela biotecnologia, que utiliza uma bactéria/célula-mãe programada para produzir a proteína que será a medicação.
São os anti-TNFs, anti-interleucinas 6, anti-CD 20 e os inibidores da co-estimulação dos linfócitos T.
Essas medicações são moléculas que irão atuar em vias específicas da autoimunidade combatendo o processo inflamatório.
Já os DMARDs alvo-específicos (anti-JAKs) são medicações orais mais modernas e específicas do que aquelas convencionais.
E são direcionadas para uma via específica do metabolismo das células envolvidas na inflamação/autoimunidade.
A terapêutica dependerá das características do paciente e da sua doença. Por exemplo, pacientes com Fator Reumatoide elevado e que já apresentem alguma erosão óssea articular devem receber tratamento mais agressivo mais rapidamente, com o objetivo de evitar novas deformidades.
“Para pacientes com câncer, a depender do tipo da doença e do tratamento que está sendo feito, em geral são usados imunossupressores não biológicos e corticoide”, cita a especialista.
A atividade física como agente principal
Recomendada para os pacientes, a atividade física é importante principalmente porque o paciente com artrite reumatoide tem risco cardiovascular aumentado (aproximadamente 1,5 vez).
Além disso, ajuda na regulação da pressão arterial, no perfil metabólico, na mobilidade e ainda contribui para reduzir a inflamação a longo prazo.
O tipo de atividade física dependerá da capacidade e das condições articulares de cada paciente naquele momento.
Texto por: Instituto de Oncologia do Paraná – IOP



