Vacina contra o câncer deixa de ser promessa para se tornar realidade
Luís Felipe Matiusso de Souza, oncologista clínico e Responsável Técnico do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP
Durante pandemia da Covid-19, observamos uma revolução no desenvolvimento e produção de vacinas. O advento da imunização, através de RNA mensageiro (mRNA), foi a inovadora proposta para ajudar no combate a uma das maiores crises de saúde da nossa geração.
O progresso obtido no desenvolvimento dessas vacinas não se limitou ao combate à pandemia, levando a novas pesquisas e desenvolvimento de potenciais alternativas para o tratamento do câncer.
Os laboratórios que se destacaram no enfrentamento à pandemia, como Moderna e BioNTech, encontram-se entre os que estão desenvolvendo tais vacinas, com avanços consideráveis especialmente no tratamento do melanoma, tipo agressivo de câncer de pele.
A vacina realmente previne o câncer?
Algumas vacinas previnem infecções que estão fortemente associadas a alguns tipos de câncer e assim, indiretamente, acabam prevenindo neoplasias.
Alguns exemplos são a vacina do HPV (disponível no Sistema Único de Saúde), que previne o câncer de colo uterino, pênis, vulva, canal anal e orofaringe, e da vacina para hepatite B, que previne hepatite crônica, cirrose e câncer de fígado.
Entretanto, não é o mesmo mecanismo de ação das vacinas citadas neste texto.
A “vacina oncológica”, diferente dos imunizantes tradicionais, tem como foco o tratamento da doença em conjunto com imunoterápicos, complementando esse já bem estabelecido tratamento oncológico, e não sua prevenção.
A vacina desenvolvida pela Moderna está sendo combinada ao Keytruda (pembrolizumabe), testada no tratamento do melanoma em fases iniciais e para redução do risco de recidiva apresentando resultados promissores.
Já a vacina desenvolvida pela BioNTech, por sua vez, está sendo avaliada em combinação com Libtayo (cemiplimabe) para melanoma em estadio clínico III ou IV – fases mais avançadas da doença.
Como funciona a vacina contra o câncer?
As vacinas utilizam elementos dos tumores que se planeja tratar, feitos através de sequenciamento genético.
A partir disso, o mRNA é construído em laboratório e incorporado à vacina, que irá apresentá-lo ao sistema imune, que produzirá, consequentemente, anticorpos específicos para as células tumorais.
A vacina BNT111, por exemplo, que está sendo desenvolvida pela BioNTech, estimula o organismo a reconhecer alterações genéticas associadas ao melanoma e atacá-los como se fossem invasores.
Quais os seus benefícios?
A vacina poderá possibilitar tratamento personalizado para cada tipo de tumor e suas alterações genéticas específicas. Apresenta, também, toxicidade menor, quando comparada a tratamentos tradicionais como quimioterapia ou radioterapia, possibilitando melhor qualidade de vida.
A Moderna, dos Estados Unidos, outra empresa que desenvolveu vacinas de mRNA contra a Covid-19, anunciou, recentemente, em conjunto com a farmacêutica Merck (representada pela MSD no Brasil), dados positivos de estudo que testou a combinação da vacina, que utiliza tecnologia semelhante, combinada a imunoterapia em pacientes com melanoma.
A vacina da empresa alemã BioNTech se encontra em ensaio clínico de fase 2, com previsão de dados preliminares nos próximos meses.
A partir daí, esperam-se estudos de fase 3, capazes de comprovar ou não a eficácia das vacinas no tratamento oncológico e só a partir de então serem disponibilizadas comercialmente.
Quais cânceres podem ser tratados com as vacinas?
Até o momento, os principais avanços na pesquisa e desenvolvimento das vacinas oncológicas estão relacionados ao melanoma e ao câncer de mama.
Porém, em tese, qualquer tipo de tumor pode se beneficiar da tecnologia.
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Texto por: Instituto de Oncologia do Paraná – IOP



